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Reforma tributária - o desafio de transformar incentivo fiscal em eficiência e competitividade.

Nos últimos anos de guerra fiscal, muita empresa decidiu onde montar sua fábrica ou centro de distribuição com base em uma lógica simples: onde o imposto é menor? Onde o governo “ajuda”?

O ICMS virou moeda de troca. Os estados competiam entre si oferecendo crédito presumido, redução de base de cálculo, isenção parcial — cada um com seu pacote de incentivos. Com isso, muitas empresas foram parar longe do consumo, mas perto do benefício. A conta fechava, mesmo com frete mais alto e lead time maior. Porque o incentivo compensava.

Mas agora essa conta vai mudar.

Com a Reforma Tributária aprovada, a lógica do jogo muda radicalmente. Os benefícios fiscais deixarão de ser uma vantagem competitiva fiscal. Os novos impostos (IBS + CBS) serão cobrados conforme o destino. Ou seja, onde o cliente está, não onde a fábrica está. O ICMS como a gente conhece vai sumir. Junto com ele, somem também os regimes especiais, o ICMS-ST, os benefícios estaduais e boa parte do planejamento tributário interestadual.

Empresas que estavam em regiões incentivadas do Norte, Nordeste ou Centro-Oeste, mas vendem majoritariamente para o Sudeste, vão precisar rever seus modelos. Porque quando o benefício fiscal perde valor, o frete vira vilão. E o concorrente que está em SP, mesmo pagando mais imposto hoje, pode se tornar mais competitivo amanhã.

Outro ponto importante que está passando desapercebido: o crédito do IBS/CBS (novos impostos), que hoje você toma assim que recebe a nota, passará a ser permitido só quando a nota for paga. Parcelou em 3 vezes? Crédito em 3 vezes. Isso pressionará o caixa e muda o jogo do capital de giro. Não é sobre “acabar com os incentivos”. É sobre parar de depender deles. - Darcio Zarpellon

A reforma exige outra forma de pensar. Menos “onde eu pago menos imposto” e mais “como eu chego melhor no meu cliente”. Ela tira o protagonismo da área fiscal e coloca a estratégia no centro da mesa.

Esse assunto tem que estar no planejamento estratégico das empresas. Precisa virar pauta prioritária em conselhos, comitês, reuniões de diretoria. Porque os impactos não são só fiscais — são operacionais, logísticos, comerciais e financeiros.

É hora de projetar cenários. Estressar números. Simular o novo capital de giro, a margem por região, o resultado líquido com e sem incentivos. O frete ainda se sustenta? A fábrica ainda faz sentido onde está? O CD ainda entrega a tempo?

Todos vão operar sob as mesmas regras. Mas nem todos vão sair da largada do mesmo ponto.

Gestão estratégica exige método. E método exige informação. - Darcio Zarpellon
Então vale perguntar: O que pode ser feito já?
  • Revisar sua malha logística. Simular impacto no caixa.
  • Testar cenários com e sem crédito imediato.
O que deve ser feito já?
  • Reavaliar o footprint industrial e a estrutura de distribuição.
  • Discutir com fornecedores e clientes como repactuar prazos e repasses.
O que já passou da hora de ser feito?
  • Parar de depender de incentivo como se fosse margem.
  • Tirar a reforma da “pasta do fiscal” e colocar no mapa estratégico da empresa.

          Porque o que antes era economia, pode virar desperdício. E o que era vantagem, pode virar custo.

          Darcio Zarpellon

          Senior Partner