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Quem segura o Brasil, mas vive
na corda bamba: a realidade das PMEs

As Pequenas e Médias empresas (PMEs), que faturam entre 20 e 300 milhões, seguram o Brasil nas costas. Não é exagero. Segundo a Fundação Dom Cabral e o Sebrae, essas empresas respondem por 25% da massa salarial do país. São elas que mantêm cadeias produtivas vivas, que geram empregos em todas as regiões, que movimentam a economia real – aquela que acontece fora dos grandes centros financeiros.

Mas, apesar de toda essa relevância, seguem operando no limite. Não estampam manchetes. Não ganham favores fiscais. E vivem a pressão de crescer em um ambiente que insiste em jogar contra.

Se você é fundador, sócio ou gestor de uma dessas empresas, sabe exatamente do que estou falando. Não há glamour em ser uma PME no Brasil. O jogo é pesado. O caixa precisa fechar todo mês, os boletos vencem, o custo sobe, mas repassar preço nem sempre é opção. Margem virou artigo de luxo. Ela encolhe, às vezes desaparece, esmagada por custos de insumos que disparam, pela flutuação cambial como quer, por juros que encarecem tudo – inclusive o seu capital de giro.

Em recentes conversas com empresários, a cena se repete: o fluxo de caixa sempre no limite, cada semana exigindo ajustes milimétricos para garantir os pagamentos. O DRE pode até estar bonito, mas o caixa? Esse, muitas vezes, sangra. - Darcio Zarpellon

A precificação é outro campo de batalha. Muitos gestores sabem o custo direto de produção, mas não sabem, de fato, a margem líquida de cada produto. Vendem no escuro. E o problema não é falta de competência mas o ambiente de negócios no Brasil, que foi desenhado para ser hostil. Aliado a tudo isso temos a complexidade tributária que engole tempo, energia, margem. O que sobra depois de pagar impostos, fornecedores, folha, e ainda tentar investir?

O IBGE mostra que quase metade das empresas fecha as portas em menos de 10 anos. E entre as que sobrevivem, muitas operam como podem, sem folga financeira, sempre na corda bamba. A verdade é que o risco mora ao lado, mesmo para quem está no mercado há décadas.

E, nesse cenário, a decisão de tocar o negócio no dia a dia, apagar incêndios, resolver o urgente, parece inevitável. Mas essa rotina é uma armadilha silenciosa. Porque quando a casa está sempre pegando fogo, não há espaço para pensar o futuro. Crescimento vira discurso bonito em PowerPoint, mas sem lastro na operação.

O ponto central é esse: ninguém constrói rentabilidade sustentável sem parar para olhar o todo. Sem repensar o fluxo de caixa como instrumento de decisão, não como planilha de acompanhamento. Sem ajustar precificação, produto a produto, até entender o que vende e o que paga a conta. Sem renegociar com fornecedores com foco em margem, não só em preço.

E não estamos falando de teoria. O básico funciona. Mas precisa ser feito.

Muitas PMEs carregam estruturas pesadas demais, que consomem recursos e tempo. Simplificar não é modismo, é condição para respirar. Reduzir camadas, ajustar processos, enxergar onde a gordura virou peso morto e onde a operação pode voltar a gerar caixa.

Sabemos que tempo é o ativo mais escasso. Mas quem espera sobrar tempo para planejar, planeja o próprio sufoco. O ambiente econômico não vai aliviar: a inflação segue resistente, os juros altos travam crédito, e os conflitos globais, como a guerra de tarifas comerciais entre EUA e China, continuam puxando o custo de insumos para cima.

Quem sobrevive nesse cenário não é quem trabalha mais. É quem para, olha o todo e faz diferente. Quem entende que fluxo de caixa precisa ser previsível, ajustado, controlado ao centavo. Que margem não pode ser esperança, mas cálculo exato. Que o negócio precisa ser leve para crescer. - Darcio Zarpellon

            Se esse cenário faz sentido para você, a boa notícia é que há espaço para virar o jogo. Pequenas mudanças, feitas com método e constância, destravando a margem e trazendo previsibilidade ao caixa, abrem caminho para o crescimento – o real, não o projetado.

            Mas essa virada começa com uma escolha: parar e pensar o negócio de forma diferente, enquanto ainda há tempo. Porque o mercado não vai esperar.

            Darcio Zarpellon

            Senior Partner